— Pois estavas tão apurada!...
Ou desfalência das forças por causa do susto, ou languidez natural à sua índole crioula, a rapariga reclinando apoiou-se docemente sobre o ombro do pajem e tomou-lhe a mão que apertou de encontro ao seio.
— Vê como ainda me bate o coração!
Sobre o mimoso seio que pulsava estofando o corpinho do vestido, a mão do pajem pousou inerte e fria; nenhuma chispa do intenso fogo que ardia ali, propagou-se por aquele sangue infantil.
— Bebe água, que isso passa. É santa coisa!... para susto e queda não há outra!...
— É a mezinha que tu me dás, Gil?...
— Essa não mata como a dos boticários.
— Oh! se mata! murmurou a mulatinha com um suspiro que lhe afogou o coração.
Gil não lhe deu atenção, ocupado como estava a raspar com a ponta da faca as pastas de açúcar estendidas sobre a tábua. Nesse movimento, que era distração apenas, a alfeloeira viu uma gulodice, e lembrou-se do que na véspera prometera a Gil.
— Ainda não perguntaste pelo que te guardei?