foi ela que ensinou a receita a uma velha, mui velhinha, da qual passou a outra, e a outra, e a outra, até que a soube minha avó torta, donde me chegou a mim. E o como a fada inventou o confeito encantado, é uma história mui primorosa, que me ensinaram. Quer a dona que lha conte, tal como ma contaram?
— Conta, moça, conta; mas vê que se não for bonita, como dizes, não te comprarei os confeitos.
— Oh! fique a dona descansada. Verá se a engano.
Joaninha de joelhos como estava, sentou-se sobre os pés, deitando o balaio de doces e os abanos em cima da banca posta entre D. Ismênia e a filha. Inesita continuava no fundo recolho; todos os requebros e caídos da mulatinha para excitar-lhe a atenção eram baldados. Seu espírito andava tão absorto e soldado no íntimo, que era difícil trazê-lo aos sentidos.
A menina estava ainda no atordoamento do mesmo golpe, que na véspera esmagara Estácio. Ao recolher do sarau seu pai lhe anunciara que a havia destinado para esposa de D. Fernando de Ataíde, coisa em que nunca ela sonhara.