o esposo que lhe dera, e quebrado a união que santificara. Depois essa febre passava; a coragem lhe desfalecia; mas ficava no coração um ódio profundo e entranhado contra tudo que pertencia à Ordem de Jesus. Se então ela recebia o padre reitor, era por uma espécie de gozo da vingança, para zombar da argúcia do religioso, e açular nele a cupidez do ouro, que contava frustrar afinal. Deleitava-se em tantalizar o frade.

Outras vezes porém Dulce sentia passar em si uma coisa estranha, revulsão terrível do seu ser. O coração como que inchava, inchava a ponto de estalar; o amor que espadanava de todos os poros e enchia por tal forma que a raptava a si mesma e à sua razão. Ela via diante de si um vulto humano, trajando hábito negro, e precipitava-se para ele; o enlaçava em seus braços; esmagava-o de beijos e o afogava de delícias. Nesses momentos, como que um mar imenso de amor a inundava, tal era a potência com que sua alma se esparzia. Tudo que lembrava a última aparição do esposo, a igreja da ordem a que ele pertencia, a roupeta que trajava, o nome que trazia, tudo exercia sobre ela uma atração irresistível; a tudo ela amava.

Naquela manhã teve Dulce um desses momentos.