O CASAMENTO DE NARIZINHO


I — A DOENÇA DO PRINCIPE



DEPOIS da viagem de Narizinho ao Reino das Aguas Claras o principe Escamado cahiu em profunda tristeza. Emmagreceu. Suas escamas foram ficando fininhas como papel de seda. Permanecia horas de olho pregado no throno donde Narizinho havia assistido ao grande baile da côrte, e de vez em quando puxava uns suspiros que pareciam arrancados com torquez.

E quanto a appetite, nada. Por mais coisas gostosas que o cozinheiro real inventasse, era sempre aquillo: o principe erguia-se da mesa sem tocar em prato algum. Minhocas lindas o deixavam tão indifferente como se fossem dessas horriveis minhocas de isca, que teem anzol dentro.

Esse estado d'alma do principe entristecia bastante a corte. Alem de o amarem sinceramente, receiavam que se Escamado morresse subisse ao throno alguma piranha de má casta, ou um celebre polvo que se divertia em estrangular os pobres peixes nos seus terriveis tentaculos.

O doutor Caramujo foi chamado a examinar o principe. Tomou-lhe o pulso. Pediu para ver a lingua. Depois, erguendo para a testa os oculos de tartaruga, disse:

— Vossa Majestade está soffrendo de narizinhoarrebitadite, doença muito séria, cujo unico remedio é casamento com uma certa pessoa.

O principe arregalou os olhos, cheio de espanto. Era a primeira vez que o medico não receitava pilulas.

— Tens razão, Caramujo! disse elle. Minha molestia não é do corpo, mas da alma. Desde que Narizinho deixou o reino não mais houve sossego para mim. Perdi o appetite, o somno, a coragem e não tenho gosto para coisa nenhuma...

— Pois é! confirmou o medico, muito contente de ter