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O CASAMENTO DO NARIZINHO

acertado. A doença de Vossa Majestade não passa de amor recolhido, só podendo sarar com casamento. Se Vossa Majestade me permitte farei uma tentativa para obter esse precioso remedio.

Os olhos do principe brilharam de esperança.

— Sim, permitto, disse elle. E se conseguires obter-me esse precioso remedio saberei recompensar-te. Far-te-ei duque-Duque da Pilula!...

O grande medico retirou-se contentissimo com a idéa de virar duque. Seria uma grande honra para a familia dos caramujos, na qual nunca houve siquer um commendador, quanto mais duque. E foi conferenciar sobre o importantissimo assumpto com os outros figurões da côrte.

Discutiram, discutiram, e depois de muito discutir resolveram endereçar a Narizinho um pedido de casamento. O doutor Caramujo mandou chamar uma senhora Lula, á qual disse:

— A senhora, que é a escrevente do mar, porque tem dentro do corpo uma penna de osso e um tinteiro de tinta, faça uma carta bem bonita pedindo a mão de Narizinho para o nosso amado principe.

A senhora Lula fez a carta. Dobrou-a depois, bem dobradinha, e fechou-a, bem fechadinha, dentro duma concha de madreperola — para que não se molhasse pelo caminho. Em seguida entregou a concha aos peixinhos escoteiros, dizendo:

— Levem-me esta concha com muito cuidado até á beira do ribeirão que corre pelo sitio de dona Benta e depositem-na em lugar onde possa ser enxergada. Se se distrahirem pelo caminho com alguma minhoca e a perderem, o principe os fará electrocutar a todos pelo peixe electrico, ouviram?

Os peixinhos juraram obediencia e lá se foram, rolando com a concha pelo fundo do mar.