MONTEIRO LOBATO
109

— Polvo o seu nariz. Onde já viu polvo com mastros? E' navio e muito bom navio.

De facto, era um navio naufragado — um enorme navio de tres mastros, já meio enterrado na areia.

Correram todos para lá, e como vissem um rombo no casco, entraram por elle. Puderam assim percorrer o navio inteirinho — os camarotes, os salões, o tombadilho. Rabicó separou-se dos companheiros para descobrir onde era a cozinha, na esperança de encontrar algum resto de comida. De repente gritou, muito alegre:

— Achei uma linda raiz de mandioca! Venham ver!...

Pedrinho e o visconde foram ver, mas viram coisa muito differente. Viram Rabicó ferrar o dente na tal raiz de mandioca e viram a raiz mover-se como cobra, enlear-se nelle e arrastal-o, berrando, para o fundo de um camarote.

— Que será isto? murmurou Pedrinho approximando-se na ponta do pé, de bodoque armado. Espiou. Era um polvo. Estava o pobre marquez nos braços dum enorme polvo, que o olhava muito admirado como se jamais houvera visto leitão com laço de fita na cauda.

— E' o que pensei, cochichou o menino para o visconde. Rabicó mordeu no tentaculo deste monstro pensando ser mandioca. E agora está perdido...

— Pelotada nelle! suggeriu o sabio.

— Não adeanta, respondeu Pedrinho coçando a cabeça, sem saber o que fazer. Nisto teve uma idéa.

— Senhorita, disse a uma sardinha que tambem estava assistindo ao espectaculo, faça-me o favor de ir correndo ao palacio dizer ao principe que o marquez está nas garras dum polvo. Elle que mande soccorro com a maior urgencia!...

Ia a sardinha dando uma rabanada para partir, quando o visconde a segurou pela caudinha.

— Senhorita, disse elle, poderá dizer-me qual é o seu nome scientifico?