MONTEIRO LOBATO
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Emilia amarrou um pequeno burrinho, certa de que era de ciume que a menina não queria que ella falasse com o principe.


VII — VEM VINDO O SOCCORRO


Pedrinho estava na maior afflicção. O soccorro que pedira estava tardando. Receiava que quando viesse Rabicó já estivesse estrangulado pelo monstro.

O que estava impedindo isso era a curiosidade do polvo. Parecia divertir-se em olhar para o focinho aterrorizado do misero, de lingua de fóra, a revirar os olhos para todos os lados em procura de salvação.

Pedrinho, que espiava a scena por uma fresta do camarote, fazia-lhe signaes para que não morresse antes da chegada do soccorro. Quanto ao visconde, estava, por ordem de Pedrinho, trepado á gavea do mastro grande para dar aviso logo que avistasse as tropas do principe.

Mas nada adeantou isso. O visconde era um verdadeiro sabio e os verdadeiros sabios são muito distrahidos. Logo que chegou ao alto do mastro distrahiu-se com uma baratinha do mar que andava por alli, ficando a parafusar que nome scientifico poderia ella ter. Porisso não viu a chegada dos couraceiros e não poude dar o aviso.

Os taes couraceiros eram uns terriveis caranguejos rajados, de casca rija como a da tartaruga e armados de pinças peores que boticão de dentista. Por serem muito vagarosos vieram montados em peixes electricos. Chegaram, apearam-se. O commandante perguntou ao menino onde estava o senhor marquez.

— No camarote numero 7, bem no fundo, respondeu Pedrinho em voz baixa para que o polvo não ouvisse.

Os couraceiros foram avançando pé ante pé. Foram avancando e, de repente, deram um pulo, todos ao mesmo tempo e "fulminaram" o polvo. Sim, fulminaram. Como viessem mon-