— Hum! Já sei! A senhora tem fabrica de linha na barriga, não é?
— Deve ser. Nunca entrei dentro de mim para saber.
— Pois eu sei o que ha dentro de mim. E' só macella! Quando fiquei com a perna secca, tia Nastacia me concertou e eu vi. Ella poz só macella, da bem amarellinha e cheirosa.
— E seu marido, o marquez? perguntou dona Aranha. Tambem é cheio de macella?
— Creio que não, porque Rabicó é differente de mim em tudo. Por exemplo: elle come e eu não como. Só como de mentira, por brincadeira.
— Não come? exclamou dona Aranha muito admirada. E' a primeira pessoa que vejo dizer isso...
— Nunca comi cousa alguma — e sinto bastante, porque comer parece que é muito gostoso. Rabicó quando come arregala os olhos de gosto, e grunhe, se alguem se approxima. A vacca mocha, essa até baba quando come um sabugo de milho.
— Pois lá no mar não existe uma só creatura que não coma. E um come o outro. A gente precisa andar com as maiores cautelas, espiando para todos os lados e escondendo-se quando vê algum peixe. Minha mãe foi comida por uma garoupa.
— Coitada! exclamou Emilia deveras compungida. E era tambem costureira?
— Era sim. Todas as aranhas são costureiras.
— E tinha tambem carretel na barriga?
— Está claro. Basta ser aranha para ter carretel na barriga.
— E de quer côr era a linha?
— A côr não varia. E' sempre a mesma para todas as aranhas.
— Que pena! exclamou Emilia triste. Gosto muito da