132
AVENTURAS DO PRINCIPE

— Hum! Já sei! A senhora tem fabrica de linha na barriga, não é?

— Deve ser. Nunca entrei dentro de mim para saber.

— Pois eu sei o que ha dentro de mim. E' só macella! Quando fiquei com a perna secca, tia Nastacia me concertou e eu vi. Ella poz só macella, da bem amarellinha e cheirosa.

— E seu marido, o marquez? perguntou dona Aranha. Tambem é cheio de macella?

— Creio que não, porque Rabicó é differente de mim em tudo. Por exemplo: elle come e eu não como. Só como de mentira, por brincadeira.

— Não come? exclamou dona Aranha muito admirada. E' a primeira pessoa que vejo dizer isso...

— Nunca comi cousa alguma — e sinto bastante, porque comer parece que é muito gostoso. Rabicó quando come arregala os olhos de gosto, e grunhe, se alguem se approxima. A vacca mocha, essa até baba quando come um sabugo de milho.

— Pois lá no mar não existe uma só creatura que não coma. E um come o outro. A gente precisa andar com as maiores cautelas, espiando para todos os lados e escondendo-se quando vê algum peixe. Minha mãe foi comida por uma garoupa.

— Coitada! exclamou Emilia deveras compungida. E era tambem costureira?

— Era sim. Todas as aranhas são costureiras.

— E tinha tambem carretel na barriga?

— Está claro. Basta ser aranha para ter carretel na barriga.

— E de quer côr era a linha?

— A côr não varia. E' sempre a mesma para todas as aranhas.

— Que pena! exclamou Emilia triste. Gosto muito da