O GATO FELIX

I — A HISTORIA DO GATO



NARIZINHO não poude salvar o principe porque quando chegou ao ribeirão do pomar já não o encontrou alli. Certa de que elle se havia salvo a si proprio, voltou correndo para casa, ansiosa por conhecer as aventuras do gato Felix.

Narizinho chegou, botou o gato no collo e disse:

— Você tem que me contar sua vida inteirinha, sabe?

— Pois não, respondeu o gato. Mas só sei contar historias de noite. De dia perdem a graça.

— Nesse caso vá dar um passeio e quando for de noite esteja aqui.

O gato sahiu, passeou pelo sitio inteiro, caçou tres ratos e de noite voltou. Tia Nastacia accendeu o lampeão da sala e disse: "E' hora, gente!" Todos vieram sentar-se em redor do illustre personagem; dona Benta sentou-se na sua cadeirinha de pernas serradas; Narizinho e Pedrinho sentaram-se na rêde; Emilia foi para o collo da menina.

Até o visconde de Sabugosa quiz ouvir as historias. Narizinho teve dó do coitado; espanou-lhe o bolor e o botou num canto da sala, dentro duma lata — para que não sujasse o chão.

Logo que todos se accommodaram, Emilia disse:

— Comece, sêo Felix!

E o gato Felix começou.

— Houve em França, disse elle, um gato muito illustre, que era escudeiro do marquez de Carabás — tão illustre que não ha no mundo inteiro uma creança que não o conheça.

— Até eu! gritou Emilia. Era o tal Gato de Botas!...