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O GATO FELIX

— Justamente, confirmou o gato Felix. Esse gato era o Gato de Botas, escudeiro do marquez de Carabás. Fez coisas do arco da velha, como se sabe, até que se casou com uma linda gata amarella e teve muitos filhos. Esses filhos tiveram outros filhos. Estes outros filhos tiveram novos filhos, e veio vindo aquella gataria que não acabava mais até que nasci eu.

— Que bom! exclamou Narizinho. Então você é bisneto ou tataraneto do Gato de Botas?

— Sou cincoentaneto delle, disse o gato Felix, mas não nasci na Europa. Meu avô veio para a America no navio de Christovão Colombo e naturalizou-se americano. Eu ainda alcancei meu avô. Era um velhinho muito velhinho, que gostava de contar historias da sua viagem.

Emilia bateu palmas de alegria.

— Conte, conte! Conte as historias que elle contava. Conte como foi que o tal Colombo descobriu a America.

O gato Felix tossiu e contou.

— Meu avô veio justamente no navio de Christovão Colombo, que se chamava "Santa Maria". Veio no porão e durante toda a viagem não viu coisa nenhuma senão ratos. Havia mais ratos no "Santa Maria" do que pulgas num cachorro pulguento, e emquanto lá em cima os marinheiros luctavam com as tempestades, meu avô lá embaixo luctava com a rataria. Caçou mais de mil. Chegou a enfarar de rato a ponto de não poder ver nem pellinho de camondongo. Afinal o navio parou e elle sahiu do porão e foi lá para cima e viu um lindo sol e um lindo mar e bem na frente uma terra cheia de palmeiras.

— Então era o Brasil! disse Emilia. Aqui é que é a terra das palmeiras com sabiá na ponta!...

— Viu a terra cheia de palmeiras e, na praia, uma porção de indios nús.

— Nús? exclamou Emilia tapando a cara.

— Sim, nús, armados de arcos e flechas, e a olharem