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O GATO FELIX

vação seria fazer-me engulir vivo por algum dos tubarões que rodeavam o navio, com as boccas abertas e aquellas dentuças que mais pareciam serras.

— Crédo! exclamou outra vez tia Nastacia, fazendo o signal da cruz. E' por essas e outras que nunca hei de sahir do meu cantinho...

— Tive essa idéa, continuou o gato, e tratei de pol-a em pratica. Escolhi o tubarão maior de todos e quando elle passou perto de mim, dei um pulo e cahi, como pilula, bem no fundo da garganta delle.

— E não se arranhou? disse Emilia. Não esbarrou nalgum dente?

— Nada! Cahi bem na campainha do tubarão, e me agarrei nella e fui entrando por aquelle corredor vermelho afóra até chegar ao estomago.

— Era grande?

— Tinha o tamanho desta sala, respondeu o gato com o maior caradurismo.

Nesse ponto o visconde empurrou a tampa da lata, botou a cabeça de fóra e gritou:

— Não acreditem! E' mentira! Nem baleia tem estomago desse tamanho. Alem disso é impossivel a um gato permanecer vivo num estomago de tubarão.

— Impossivel porque, sêo Embolorado? Não se lembra da historia que dona Benta contou do propheta Jonas, que "permaneceu" uma porção de tempo dentro da barriga de um peixe?

— Sim, disse o visconde. Mas Jonas era propheta.

— Jonas era propheta e "sêo" Felix é quadragesimo. Dá na mesma.

Todos acharam que Emilia tinha razão.

— Fiquei lá muito sossegado da minha vida, continuou o gato, mas vi logo que não podia morar alli por muito tempo. Não havia ratos — e gato não sabe viver onde não ha