MONTEIRO LOBATO
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A negra trouxe a vassoura e fez como o visconde mandou, embora não pudesse nem por sombras adivinhar quaes fossem as suas intenções.

Liquidado o caso da vassoura, Emilia disse :

— Tem a palavra o senhor visconde de Sabugosa !

O visconde ergueu-se dentro da lata, tossiu um pigarrinho e começou :

— Meus senhores e minhas senhoras !

O gato Felix espremeu uma risada ironica.

— Isso nunca foi historia, senhor visconde! Isso chama-se discurso e muito bom discurso. Pelo que vejo, ninguem nesta casa sabe contar historias...

Aquillo era indirecta para Emilia, que se remexeu toda, já damnadinha e prompta para responder. Mas Narizinho interveio e acalmou-a.

O visconde não se atrapalhou com o aparte. Limitou-se a lançar sobre o gato um olhar terrivel e a dizer :

— Não é discurso não, senhor gato! E' outra coisa, e uem vae explicar o que é, não sou eu e sim aquella senhora vassoura, que alli está ao lado de tia Nastacia...

Todos olharam muito espantados para o visconde, sem comprehenderem o que elle queria dizer com aquillo.

Em seguida o visconde recomeçou :

— Meus senhores e senhoras! A historia que vou contar não foi lida em livro nenhum, mas é o resultado dos meus estudos scientificos e criminalogicos.

— Fale menos difficil, visconde, senão ninguem o entende, exclamou Emilia.

— E' o resultado das minhas deducções, continuou o visconde. Passei duas noites em claro compondo a minha historia e espero que todos lhe deem o devido valor.

— Muito bem! exclamou Narizinho. Mas desembuche de uma vez.

Era uma vez um gato, continuou o visconde. Mas um gato atôa, um gato de roça, um gato que não valia coisa