MONTEIRO LOBATO
167

com partes de que era um grande gato de familia nobre e que tinha nascido num paiz estrangeiro, etc.

Emilia olhou para o gato Felix.

— Deve ser algum seu parente, sêo Felix. Os traços estão muitos parecidos...

— Não tenho parentes dessa laia, respondeu o gato com orgulho. Esse gato ladrão deve ser parente mas é dalguma senhora boneca...

— Continue, senhor visconde, disse Narizinho.

O visconde tossiu outro pigarrinho e continuou :

— O tal gato ladrão ficou morando nesse sitio. Todos o tratavam com as maiores gentilezas, mas em vez de mostrar-se grato por tantas attenções, elle tratou de continuar a sua triste vida de gatuno. E foi e comeu um pinto carijó.

Neste ponto o visconde parou e olhou firme para o gato Felix. O gato sustentou o olhar do visconde e deu o desprezo.

O visconde continuou:

— Comeu esse pobre pinto, que era tão lindo, e no dia seguinte comeu outro pinto ainda mais bonito.

O gato Felix levantou-se indignado.

— O senhor visconde está me insultando ! gritou. Esses olhares para o meu lado parecem querer dizer que sou eu o tal gato ladrão !...

O visconde pulou fóra da latinha e berrou :

— E é mesmo ! O tal gato ladrão é você, seu patife ! Você nunca foi gato Felix nenhum ! Você não passa de um miseravel comedor de pintos !...

Foi um reboliço ! Todos se ergueram, sem saber o que fazer. O gato Felix, furioso da vida, berrou ainda mais alto que o visconde :

— Próve, se for capaz ! Próve que comi os taes pintos...

— Próvo e já ! urrou o visconde. Tenho as provas aqui no bolso.

Disse, e puxou do bolso dois pellinhos de gato.