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O GATO FELIX

— Eis as provas! Este pello eu encontrei no gallinheiro, bem no local do crime e ainda manchado com o sangue da victima. E este outro, a senhora Emilia te arrancou das fuças, sêo miseravel! Estão aqui as provas. Quem quizer pode vir examinal-as com o binoculo de dona Benta. São perfeitamente iguaes, até no cheiro. Ambos teem cheiro de gato ladrão!...

A prova era esmagadora, e tia Nastacia, passando a mão na vassoura, avançou, feito uma onça, para cima do falso gato Felix.

O gatuno deu um pulo e sumiu-se pela janella na escuridão da noite.

— Bravos ! Bravos ao visconde ! exclamaram todos. Viva o nosso Sherlock Holmes !...

— Viva! Viva!...

E fizeram-lhe uma grande festa, e deram-lhe muitos abraços e beijos. Até Emilia, que era muito envergonhada, encheu-se de coragem e o beijou na testa.

— Ahi, Emilia ! exclamou Narizinho de brincadeira. Vou contar para Rabicó...

Dona Benta tomou a palavra e disse:

— Vejam que injustiça iamos commettendo para com o pobre visconde, só porque havia embolorado e estava muito feio ! Os acontecimentos desta noite acabam de provar que é um verdadeiro sabio — e dos que dão lucro a uma casa. Deste momento em deante quem vae tomar conta delle sou eu. Vou cural-o do bolor e botal-o como administrador do sitio.

O relogio bateu as dez horas, e emquanto os meninos se recolhiam a velha pegou do visconde e o guardou, bem guardadinho, na sua estante, entalado entre uma Arithmetica e uma Algebra.