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O IRMÃO DE PINOCCHIO

arregalados, e lá se foi, resmungando: "Que mania essa do visconde, de só falar inglez agora. Crédo!" Mas Pedrinho o comprehendeu perfeitamente e até se enthusiasmou.

— Boa idéa, não ha duvida! Vou amolar meu machadinho e amanhã cedo começarei as "investigações".

E assim fez. No dia seguinte, logo depois do café, botou o machadinho ao hombro e partiu para a floresta, disposto a picar todos os paus por lá existentes até encontrar um que désse signaes de vida. A semana inteira passou naquillo. Não deixava escapar uma arvore. Golpeava-as todas, e applicava o ouvido ao tronco para ver se gemia. Muitas choraram lagrimas de resina, mas gemer nenhuma gemeu durante todo aquelle tempo.

— Acho que estou fazendo papel de bobo, disse elle um dia ao voltar. Pau de Pinocchio só mesmo na Italia. A idéa do visconde está-me parecendo que é como o nariz delle.

Ouvindo-o dizer aquillo Emilia ficou de pulga atraz da orelha. Poz-se a reflectir que se o menino não achasse pau vivente era capaz de lhe tomar o cavallinho, allegando que sua idéa tambem era como o nariz de alguem. Pensou, pensou, pensou e por fim concebeu um plano. Foi procurar o visconde e disse-lhe:

— Largue esse livro (era uma Algebra que o sabio estava a ler) e diga-me uma coisa: o senhor visconde sabe gemer?

— Nunca gemi, respondeu o sabio, estranhando a pergunta, mas não creio que seja coisa muito difficil.

— Então gema um pouquinho para eu ouvir.

O visconde fez uma careta muito feia e gemeu em varios tons o melhor que poude.

— Muito bem, approvou a boneca. Sabe gemer, sim, e nesse caso preciso que me preste um grande serviço. Presta?

O velho sabio parece que tinha alguma paixão occulta