MONTEIRO LOBATO
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— E que tenho eu com isso?

— Tem que se houver mais pau dessa qualidade, você poderá arranjar um pedaço e fazer um irmão do Pinocchio!

Todos se entreolharam, admirados da esperteza da boneca. Pedrinho chegou a enthusiasmar-se com a idéa.

— E' mesmo! exclamou arregalando os olhos. A idéa é tão boa que só admiro ninguem ter pensado nisso antes. Pode ir lá ao meu quarto, Emilia, e tirar o cavallinho da gaveta.


II — O PAU VIVENTE


A grande idéa de Emilia não sahiu mais da cabeça de Pedrinho. Só pensava em ir á Italia, ver se no quintal do homem que fez o Pinocchio não existiria ainda um resto do tal pau. Mas ir como? A pé não podia ser, porque era muito longe e teria de atravessar o oceano. De navio tambem não podia ser, porque dona Benta tinha um medo horrivel de naufragios e jamais consentiria que elle embarcasse. Como pois resolver o problema?

Desta vez foi o visconde quem teve a melhor idéa. Esse sabio estava ficando cada vez mais sabido, depois da temporada que passou atraz da estante, entalado entre uma Algebra e uma Arithmetica de Trajano. Porisso só falava scientificamente, isto é, de um modo que tia Nastacia não entendia.

— Eu acho, observou elle cuspindo um pigarrinho, que não é preciso ir á Italia para descobrir madeira com "propriedades pinocchianas". A Natureza é a mesma em toda a parte, e se lá ha disso, não vejo "razão plausivel" para que não o haja aqui tambem. "Donde", se você procurar bem procurado, bem pode ser que descubra em nossas mattas algum "exemplar esporadico da mirifica substancia."

Tia Nastacia, que naquelle momento ia passando de trouxa de roupa na cabeça, parou, escutou o discurso, de olhos