O de Emilia era uma pandega. Emilia quiz botar no boneco tanta coisa que o virou uma trapalhada. Fez cacunda de Polichinello, bocca de sapo, rabo de jacaré, orelhas de morcego, pés de bode e nariz ainda mais comprido que o de Pinocchio. Tinha tambem um olho arregalado nas costas, "para que ninguem o pudesse agarrar de surpreza." explicou ella, cheia de orgulho dessa lembrança que ninguem havia tido.
Pedrinho botou em votação os desenhos por tres vezes, sem o menor resultado. Cada qual achava o seu o mais bonito e votava em si proprio.
— Com votação não vae, disse elle. O melhor é tirar a sorte.
Todos concordaram. Pedrinho escreveu o nome de cada concorrente num pedaço de papel, enrolou-os e botou-os no seu chapeu, pedindo a dona Benta, como mais velha, que tirasse um.
Emilia, porem, protestou, erguendo a mão esquerda no ar e escondendo a direita no bolsinho da saia.
— Quem vae tirar a sorte sou eu! Dona Benta não sabe!
— Não é você, não! E' vovó! determinou Pedrinho.
— Sou eu! Sou eu! insistiu a boneca.
— Já disse que é vóvó. Não amole!
— Sou eu! Sou eu! continuou a boneca, batendo o pé e sempre com a mão no bolso.
Narizinho desconfiou da insistencia e daquella mão no bolso.
— Deixe ver a mão, Emilia.
— Não deixo! respondeu a boneca, corando até á raiz dos cabellos.
Narizinho agarrou-a e, tirando-lhe a mão do bolso á força, viu que havia nella um papelzinho do mesmo tamanho e enrolado do mesmo geito que os que Pedrinho puzera no chapeu.