MONTEIRO LOBATO
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vesse sete pulmões dentro della: "Acudam! Barba Azul está querendo me matar!" e foi tal a grita que todos acudiram assustados, certos de que algum grande desastre havia acontecido.

— E' este Barba Azulzinho que me chamou de cara de coruja secca e me deu um beliscão, disse Emilia soluçando.

Todos tomaram o partido della, inclusive dona Benta, que disse:

— Tamanho homem a brigar com uma pobre bonequinha de panno! Onde já se viu semelhante coisa? Se o senhor continua assim eu o ponho no Caraça, ouviu?

Pedrinho emburrou, mas calou-se, e Emilia, victoriosa, foi ter com o cavallinho, e cochichou uma porção de coisas.

Dalli a pouco os dois brigados se encontraram de novo e o menino disse:

— Deixe estar que você me paga, fedor!

— Anthropophago!

— Cara de...

— Não diga outra vez que eu grito e dona Benta põe você no Caraça!

Pedrinho viu que gritava mesmo e sahiu para o terreiro, muito aborrecido. Lembrou-se de ir pescar ao ribeirão; depois mudou de idéa e tomando o machadinho partiu para a floresta. O melhor meio de curar-se em taes occasiões era ir para a floresta derrubar pés de embaúva. A raiva recolhida sahia do corpo e elle voltava para a casa perfeitamente bom.

Andou por lá ao acaso por meia hora, e por fim foi parar junto ao tronco gemedor. Lembrou-se de fazer nova experiencia. Deu-lhe um golpe e escutou. O tronco não deu um pio. Outro golpe, e outro, e mais de dez. O tronco, quieto, quieto!

Como póde ser isto? pensou o menino. Se o tronco gemeu daquella vez, devia gemer agora. Se não geme agora, como gemeu daquella vez? Aqui ha marosca!...