MONTEIRO LOBATO
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parte era arvore viva, cheia de flores cada mez de setembro, muitas vezes a vi lá em nossos galhos. Desconfio que é uma fadazinha disfarçada em vespa.

— Se é fada, disse a menina duvidando, porque não fugiu com as outras e deixou que a pegasse?

— Porque queria conversar com você, respondeu a vespa.

A menina arregalou os olhos, tomada de grande alegria.

— E' fada mesmo, Fazdeconta! E das que falam, porque ha umas que só fazem tlin, tlin, tlin, como a fada Sininho que não largava de Peter Pan. Que pena Pedrinho e Emilia não estarem aqui! Vão ficar damnados de eu ter visto uma fada antes delles.

A vespa-fada contou-lhe sua vida inteira desde que nasceu e disse que havia muitos annos andava a correr mundo atraz de um alfinete magico sem o qual não poderia ser bem, bem, bem fada das que podem tudo e viram uma coisa noutra. Esse alfinete era uma varinha de condão das mais poderosas, que andava perdida entre os mortaes.

Ao ouvir aquillo o coração da menina pulou dentro do peito. Lembrou-se logo do alfinete que tia Nastacia havia dado á boneca e imaginou que talvez fosse o tal alfinete magico. Para certificar-se, indagou:

— Não era um alfinete de pombinha carijó?

— Isso mesmo! Como sabe? exclamou a fada, admiradissima.

Narizinho viu que havia feito asneira dizendo aquillo, pois a vespa poderia tomar o alfinete da boneca, impedindo Emilia de vir a ser uma famosa fada de panno — coisa que nunca existiu. Quiz remendar a sua imprudencia e disse:

— Sonhei. Sonhei a noite passada com um alfinete assim, isto é, mais ou menos assim. Não era de pombinha, não, agora me lembro. Era de gallo ou bicho parecido. Como a senhora sabe, os sonhos são sempre atrapalhados.

— Mais atrapalhadas são as mentiras de nariz arrebi-