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O IRMÃO DE PINOCCHIO

eu estava agora ha pouco tomando banho no ribeirão e unm objecto, feito castanha de cajú, veio rolando pela agua abaixo e esbarrou em mim. Peguei-o, olhei e vi que era uma cabeça, com bocca, nariz e tudo. Quem sabe se não é a cabeça de Fazdeconta? Está no bolso do meu aventalzinho. Espera ahi que vou buscal-a.

Foi lá dentro e trouxe a cabeça.

— E' essa mesma! exclamou Narizinho, satisfeitissima daquelle inesperado e feliz desenlace. Vou concertar o Joãozinho já, já.

Foi um instante. Em meio minuto a cabeça do boneco estava outra vez no lugar e elle em condições de falar e contar tudo que acontecera emquanto a menina esteve de olhos fechados. Quando Fazdeconta concluiu a narrativa, Capinha suspirou e disse:

— Quem me dera ter um companheiro leal e valente como este! Vivo tão sózinha nestas solidões...

Narizinho sentiu grande pena e prometteu que viria sempre visital-a.

—E não deixes de trazer a Emilia. Gostei muito della.

Narizinho contou-lhe, então, em grande segredo para que alguma vespa escondida por alli não pudesse ouvir, que a boneca estava na posse do alfinete de pombinha, que era uma vara de condão, e que portanto poderia de um momento para outro virar uma poderosa fada — e uma fada que nunca existiu no mundo: a Fada de Panno.

— Pois ella que se transforme e appareça por aqui para brincar commigo de virar.

Nisto surgiu Fazdeconta, que tinha sahido para o terreiro afim de refrescar a cabeça. Veio muito alegre, dizendo:

— Adivinhem quem passou por aqui? Peter Pan. Conversou commigo meio minuto e lá se foi, voando, para a Terra do Nunca, onde mora. Disse que qualquer dia apparecerá no sitio de dona Benta para brincar com Pedrinho.