234
O CIRCO DE ESCAVALLINHO

III — O CIRCO


A construcção do circo deu muito trabalho. Pedrinho tinha de fazer tudo, mas o peor era fazer buracos para fincar os paus e o mastro. E quantos buracos! Mais de trinta. Suou que não foi brincadeira; chegou a crear callos dagua nas mãos. Emilia, que de vez em quando vinha sapear as obras, deu-lhe uma idéa.

— Eu, se fosse você, arranjava um tatú para fazer esses buracos. Os tatús são melhores do que cavadeiras para fazer buracos bom redondinhos.

— Eu, se fosse você, respondeu o menino de mau humor, ia pentear macacos.

Emilia poz-lhe a lingua e começou a brincar com o carro de carretel. Atrelou nelle o cavallo de rabo de penna, botou o tostão dentro e disse de brincadeira: Agora, senhor cavallo, vá correndo ao palacio do rei e entregue-lhe esse queijo de prata, que eu mando. Ao palacio do rei, não; ao palacio do principe. Ao palacio do principe, não; ao palacio do duque. Ao palacio do duque, não; ao palacio do marquez. Ao palacio do... Abaixo de marquez o que é, Pedrinho? perguntou ella já esquecida da zanga.

Mas o menino não estava para prosa, porque justamente naquelle instante havia dado uma martellada no dedo.

— E' martello, respondeu elle assoprando a machucadura.

— Martello, martello! Como é bonito! Porque você não vira o marquez de Rabicó em martello?

— E porque você não vae lamber sabão, Emilia?

A boneca botou-lhe a lingua outra vez, indo queixar-se a Narizinho lá dentro. A menina estava justamente acabando o sol da roupa do palhaço; ia começar o saiote da dama que corre no cavallo.

— Aquelle bobo! disse a boneca fazendo um muxoxo.