MONTEIRO LOBATO
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— Cocada! gritou o Gato Felix.

Pedrinho viu que precisava começar o espectaculo sem demora e deu o primeiro signal, batendo com um martello numa enxada velha, pendurada de um barbante — blen, blen, blen...


V — O ESPECTACULO


A alegria no circo era immensa. Ainda que o espectaculo não valesse nada, todos se dariam por bem pagos da trabalheira da viagem pelo simples prazer da reunião. Os convidados do reino das Aguas Claras estavam radiantes de se verem em companhia dos famosos personagens que até alli só tinham conhecido atravez dos livros de historias. E estes, como havia muito tempo não vinham á terra, estavam satisfeitissimos de se verem em companhia de creanças de carne e osso.

Já havia soado o terceiro signal e nada do espectaculo começar. O respeitavel publico foi ficando impaciente outra vez. Narizinho insistia com o menino para que começasse immediatamente.

— Não posso, antes de vóvó chegar, explicou elle. Ella está se arrumando ainda. Como as princezas vieram, ella teve de mudar de vestido e está passando a ferro aquelle celebre vestido de gorgorão amarello do tempo do Imperador. Tia Nastacia não sei se vem. Está com vergonha, coitada, por ser preta.

— Que não seja boba e venha, disse Narizinho. Eu dou uma explicação ao respeitavel publico.

Afinal as duas velhas appareceram — dona Benta no vestido amarello do tempo do Imperador e Nastacia, feito uma perúa choca, noutro vestido da mesma epocha, que dona Benta lhe havia emprestado. Narizinho achou que devia fazer a apresentação das duas por haver alli muita gente que não as conhecia. Trepou a uma cadeira e disse: