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O CIRCO DE ESCAVALLINHO

— Respeitavel publico, tenho a honra de apresentar vóvó, dona Benta de Oliveira, sobrinha do famoso conego Agapito Encerrabodes de Oliveira e Silva, que já morreu. Tambem apresento a Princeza Anastacia. Não reparem ser preta. E' preta só por fóra, e não de nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou e a condemnou a ficar assim até que encontre um certo anel, na barriga de um certo peixe. Então o encanto se quebrará e ella virará numa linda princeza loura.

Todos bateram palmas emquanto as duas velhas se escarrapachavam nas suas cadeiras de dez tostões cada uma.

— Palhaço! gritou o Pequeno Pollegar.

— Podemos dar começo, disse Pedrinho á menina. Vá preparar a Emilia que eu vou cuidar do palhaço.

Como o primeiro numero ia ser uma corrida de cavallo da Emilia, Narizinho deu-lhe os ultimos retoques e fez-lhe as ultimas recommendações. Pela primeira vez na vida a boneca mostrava-se um tanto nervosa.

Blen, blen, blen, soou a enxada. Era hora. Uma cortina se abriu e a boneca entrou em scena montada no seu cavallinho de rabo de gallo.

Foi recebida com uma chuva de palmas. Emilia fez uma graciosa saudação de cabeça, atirou uns beijinhos e começou a correr. Correu varias voltas, umas sentada de banda, outras de pé num pé só.

— Que damnada! murmurou dona Benta. Nunca pensei que a Emilia se sahisse tão bem; até parece o Tom Mix...

Tia Nastacia não disse nada; apenas murmurou "Crédo!" e persignou-se.

Quando chegou o momento de pular os arcos, surgiu lá de dentro Fazdeconta com dois arcos na mão. Coitado! Estava mais feio do que nunca, na roupa de cow-boy que Narizinho lhe arranjara. Aladino virou-se para o Gato de Botas e disse: "Este é que é o verdadeiro Cavalleiro da Triste Figura", e o Pollegar berrou: "Arranca o prego!"