MONTEIRO LOBATO
257

Não podendo usar a penna no chapéo, que não tinha, Pedrinho propoz que a amarrasse á testa com um fio.

Foi approvada a idéa. Mas onde penna e fio?

— Tenho uma, de papagaio, na canastrinha, gritou Emilia. Arreie a carga, visconde, e abra a canastra.

O visconde arriou a canastrinha, abriu-a e passou á boneca a penna de papagaio e tambem um rolinho de fio de linha.

A penna foi atada á testa do menino invisivel e desde esse momento não houve mais difficuldade em lidar com elle. A penna fluctuando no ar indicava a sua presença.

— Viva o Penninha! gritou Emilia, e aquelle grito foi um baptismo. Dalli por deante só o iriam chamar assim — o Penninha.

Resolvido aquelle ponto, trataram de partir. Para isso o menino invisivel tirou dum saquinho um pó de pirlimpimpim. Deu uma pitada a cada um e mandou que cheirassem.

Todos cheiraram, sem espirrar, porque não era rapé. Só Emilia espirrou. A boneca espirrava sempre que cheirava qualquer pó que fosse, desde o dia em que viu tia Nastacia tomar rapé.

Assim que cheiraram o pó de pirlimpimpim, que é o pó mais magico que as fadas inventaram, sentiram-se leves como plumas, e tontos, com uma zoeira nos ouvidos. As arvores começaram a lhes gyrar em torno, quaes dançarinas de saiote de folhas, e finalmente foram-se apagando.

Parecia sonho. Boiavam no espaço como bolhas de sabão levadas por um vento de extraordinaria rapidez. Ninguem falava, nem podia falar, a não ser a boneca, que em certo ponto gritou:

— Preciso de mais pó, Penninha! Sinto que estou cahindo!

— E' que estamos chegando, respondeu o menino invisivel.