nariz outra vez, quando Emilia a agarrou pela perna secca e a puxou para fóra.
— Chegou tua vez, malvada! Ha mil annos que a senhora me anda a dar com essa porcaria de porta no focinho das cigarras, mas hoje chegou o dia da vingança. Quem vae levar porta no nariz és tu, sua cara de coruja secca!
E, voltando-se para a cigarra:
— Amor com amor se paga. Eu seguro a bruxa e você malha com a porta no nariz della. Vamos!
A cigarra cumpriu a ordem, e tantas portadas arrumou no nariz da formiga que a pobre acabou pedindo soccorro ao senhor de Lafontaine, que a conhecia de longo tempo.
O fabulista interveio.
— Basta, bonequinha! disse elle. A formiga já soffreu a sova merecida. Páre, senão ella morre e estraga-me a fabula
Emilia soltou a formiga surrada, que lá se foi para o fundo do formigueiro, com o nariz deste tamanho e mais tonta do que se tivesse bebido um calice de formicida.
VII — ESOPO
Durante todo aquelle tempo o menino invisivel estivera afastado do grupo, vendo uns macacos que haviam apparecido na orla da floresta. Ao voltar, annunciou sua chegada, já de longe, com o costumado cocoricocó.
O senhor de Lafontaine, que ignorava aquella mania do Penninha, illudiu-se, julgando tratar-se dum gallo de verdade.
— Lá está um gallo cantando, disse elle ingenuamente. Gosto dessa ave, que symboliza a bravura e a victoria.
Todos sentiram vontade de rir ao perceberem o engano dum homem tão sabio. Mas contiveram-se, lembrando o respeito que dona Benta lhes ensinara para com os mais idosos. Todos, menos Emilia. A burrinha espremeu uma das suas