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A PENNA DE PAPAGAIO

O pobre sabio andava que mal podia comsigo, de tanto carregar ás costas a tal canastrinha. Porisso não falou, nem se metteu em coisa nenhuma durante todo o passeio. Não poude nem sequer discutir sciencia com os dois fabulistas, seus collegas em sabedoria.

Penninha contou que na floresta havia muito mais bichos que alli — leões, tigres, macacos, ursos — todos os animaes importantes.

Em vista disso para lá se dirigiu o bando, guiado pela penna de papagaio fluctuante.

Assim que entraram na floresta, viram no topo duma arvore secca um corvo de queijo no bico. Pedrinho, muito sabido em fabulas, disse logo:

— Aposto que em baixo da arvore está uma raposa. Ella vae gabar a voz do corvo, dizendo que nenhum sabiá canta bonito como elle. O vaidoso acredita, fica todo ganjento, abre o bico para cantar e o queijo cáe e a raposa pega o queijo e foge com elle, na risada. Já sei tudo. Não vale a pena pararmos para ver isso.

— Vale, sim! contrariou Emilia. Podemos enganar a raposa e comer o queijo.

Narizinho fez cara de nojo.

— Que coragem, Emilia! Comer um queijo que já andou em bico de corvo...

— Comer de mentira, boba! Só para ver o nariz comprido da raposa.

Mas não pararam. Pedrinho achava que corvo e raposa eram bichos sem importancia, que não valiam a pena. Queria féras de verdade.

— Onde mora o leão, Penninha? perguntou elle.

— Na montanha. Para lá chegar temos de passar pela casa da Menina do Leite.

— Bravos! exclamou Narizinho. Vóvó nos contou a historia dessa coitadinha que foi ao mercado vender o primeiro leite da sua vacca mocha, fazendo castellos do que