MONTEIRO LOBATO
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Os guardas trouxeram Pedrinho.

O menino estava furioso com o que havia acontecido. Se tivesse seu bodoque, era a bodocadas que responderia ás perguntas do macacão. Mas não tinha. Estava de mãos amarradas. Mesmo assim resolveu dizer o que realmente pensava, porque Pedrinho sempre fôra um menino de caracter forte, dos que não mentem em caso nenhum. Assim que o rei lhe repetiu aquella pergunta, o mais que poude dizer foi o seguinte:

— O que acho deste reino? Não acho coisa nenhuma. Não é reino nenhum. Não vejo rei nenhum. Vejo um macacão, como todos os outros, trepado num galho que elle suppõe ser throno. As damas da côrte? Macacas. Simples macacas, como todas as macacas. Tudo macaco! Isto não passa dum grande macacal, como os ha em todas as florestas...

— Fóra da minha presença, miseravel calumniador! berrou Simão XIV no auge da colera. Levem-no, guardas! Amarrem-no a um tronco para ser devorado amanhã pelas formigas carnivoras.

O pobre Pedrinho viu-se arrastado dalli como se fosse um cacho de bananas...


X — PENNINHA NÃO FALHA


Narizinho foi levada para o alto da arvore onde tinha de morar toda a vida com o seu marido macaco. Pedrinho foi amarrado ao tronco onde ia ser devorado pelas formigas cuyabanas. O visconde foi dormido á força num galho de pau.

Era o unico feliz. Teve lindos sonhos. Sonhou com um paiz socegado, onde não havia Emilias nem canastras.

Veio a noite. A macacada começou a cahir num tal somno que dentro em pouco só se ouviam roncos naquelle trecho da floresta. Da arvore, onde estava, Narizinho poude ver Pedrinho amarrado ao tronco.