— Soque o olho! berrou Emilia.
— Sim, é o que ha a fazer. Mas como a pontaria tem de ser muito bem feita, vou segurar a espingarda com ambas as mãos e você, Pedrinho, préga o socco. Vamos, não tenha dó!...
Todos ficaram em suspenso, sentindo que algo de muito importante ia acontecer. Tal qual no circo de cavallinhos, quando a musica pára.
Foi o momento mais notavel da vida de Pedrinho. Ia dar um socco historico no olho do mais celebre caçador do mundo! E tinha de fazer serviço muito bem feito para não estragar o capitulo.
— Socco inglez! gritou Emilia.
O menino tirou o paletó, arregaçou a manga da camisa, gyrou tres vezes no espaço o punho cerrado e por fim — bam! — deu tal socco que quasi arranca o olho do barão fóra da orbita. Mas valeu! Sahiu uma faisca linda, que penetrou, feito um corisquinho, dentro do ouvido da arma e inflammou a polvora.
Bum! Um tiro reboou, daquelles que levam minutos echoando por montes e valles. E certissimo!... A bala deu bem no cabresto, cortando-o como se fosse navalha. O burro immediatamente começou a cahir com velocidade crescente, até que — tchbum! — mergulhou no oceano.
— Afundou para sempre, o coitado! exclamou Narizinho.
— Não tenha medo, que bóia já, disse o barão.
De facto. Segundos depois apparecia á tona dagua uma afflictissima cabeça de burro, a berrar:
— Soccorro! Acudam-me, que não sei nadar!...
— E esta agora! exclamou o menino. Querem ver o nosso burro escapa do passaro Roca para morrer afogado estupidamente, como um carneiro?
— Vamos salval-o, Pedrinho! disse o barão despindo