MONTEIRO LOBATO
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desorientados. E aquillo acabaria muito mal — se a boneca não viesse com uma das suas grandes idéas.

— Fechem os olhos com toda a força! berrou Emilia dando o exemplo.

Instinctivamente todos a obedeceram. Fecharam os olhos com toda a força, como a gente faz nos sonhos, quando vae cahindo num precipicio.

Nem um minuto ficaram assim. Quando abriram os olhos de novo... viram-se no sitio outra vez, perto da porteira!

Dona Benta disse então aos meninos:

— Não contem nada á tia Nastacia para que não pense que estou caducando. Vamos fingir que estivemos em casa do compadre Theodureto.

Todos fizeram cara de quem vinha chegando da casa do compadre Theodureto e abriram a porteira e entraram. Mas deram logo com a preta de mãos na cintura, plantada na varanda, sacudindo a cabeça com ar de quem já sabe de tudo.

— Sim, senhora! disse ella assim que dona Benta começou a subir a escadinha. Já sei que encontrou o sêo Theodureto muito bem, obrigado, não é?

Dona Benta armou a bocca para pregar uma mentirinha, com um ar muito desconchavado, porque a coitada nunca havia mentido em toda a sua vida. A diaba da negra, porém, impediu-a disso.

— Não diga nada, resmungou ella. Já sei tudo. O burro veio na frente e me contou a historia inteirinha, tim tim por tim tim...

A pobre dona Benta, muito passada, baixou os olhos e seguiu para o seu quarto sem dizer coisa nenhuma...


No dia seguinte chegou da cidade uma carta de dona Antonica chamando Pedrinho.

— Que maçada, vovó! exclamou o menino aborrecidissimo. Justamente agora que temos o burro falante e o