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O PÓ DE PIRLIMPIMPIM

— Que será de mim agora, neste castello sem dono, entre creados estranhos, com um vizinho feroz como o passaro Roca? Ah, meu Deus, porque me fui deixar levar pela cabeça duma creança como Pedrinho? Estou recebendo o merecido castigo!...

Os meninos ficaram apprehensivos. Naquelle andar dona Benta acabaria doida. Era melhor levaram-na immediatamente para o sitio, apezar de tanta coisa que poderiam fazer naquelle maravilhoso castello ás ordens delles.

— Maçada! exclamou Pedrinho aborrecido. Andar com velha é isto. Nunca mais me metto em outra.

E voltando-se para dona Benta, de mau humor:

— Páre com a lamentação, vovó! Assim como eu a trouxe cá, levo-a para o sitio outra vez. Páre de torcer as mãos, que já está me deixando nervoso...

Tirou do canudo uma pitada de pó de pirlimpimpim e, sempre com maus modos, deu-lh'o a cheirar. Dona Benta cheirou o pó avidamente, como se cheirasse o pó da salvação.

Com espanto geral, porém, o pó não fez effeito. Outra dóse, e nada. Pirlimpimpim perdera a força... Molhara-se na agua do mar quando Pedrinho entrou por elle a dentro para acudir o burro. Pirlimpimpim aguenta tudo, menos sal.

E agora? O burro ninguem sabia delle, ficára na praia, transformado em esphinge. A caleça do barão tinha seguido com o barão para a Allemanha. Como voltar para casa?

Estava Pedrinho coçando a cabeça, atrapalhado com o terrivel problema, quando um rumor de asas se fez ouvir lá fóra. Correu á janella e empallideceu. O passaro Roca vinha vindo, veloz como um zeppelin!...

— Lá vem o malvado!... exclamou o menino mais pallido ainda.

— Soccorro! berrou dona Benta feito uma louca. Acudam!...

O momento era dos mais terriveis. Ninguem sabia o que fazer. Todos corriam dum lado para outro, completamente