forma a linguagem polida e decente; o outro falado pelas classes sem educação, e que ordinariamente se chama linguagem baixa. Ambas essas maneiras de falar exprimem com termos diversos os mesmos objetos, as mesmas necessidades.

Ora, sendo a minha comédia escrita na linguagem fina da sociedade; sendo o seu estilo inteiramente figurado, não é possível que o taxem de imoral; a menos que não exigissem de mim que escrevesse um livro, que, à força de ser metafísico, parecesse antes um tratado de filosofia do que uma obra ao alcance de todas as inteligências como deve ser a comédia.

Chego ao jogo cênico. É neste ponto que se aguçam as iras dos moralistas; é daí que a polícia tirou naturalmente argumentos para a proibição de minha peça.

Estabelecido, como fica, que o pensamento de apresentar o vício no teatro não é imoral, porque a sociedade me dá o exemplo, e o repertório dramático em voga para isso me autorizava; descarnemos a comédia, afastemos os tecidos e nervos que a cobrem, e vejamos se a autópsia moral, à que vou proceder, nos apresenta esse corpo tão corrompido que excite desgosto e repugnância.

Se não me engano, são a penúltima cena do prólogo, quando Ribeiro seduz Carolina, e a cena