OITO SONETOS

AGULHA DE MAREAR

Nao ha morte, nem vida: ha formas.

Gasuito CasTRiLo Brasco,

A sombra do cypreste, acicular e fina, silenciosamente aponta o chao barrento,

aonde, em cada flér, existe uma ruina,

e, em cada grao de terra, o po de um soffrimento.

E é nesse chao fendido, inerte, e lamacento, que se fére a batalha, em bere chacina, entre a raiz da herva e o morto Pensamento, entre a tromba da larva e a bécca feminina.

Improficua peleja em que o vencido de Hoje foi Hontem vencedor; e em que a victoria foge, buscando inutilmente a eterna Perfeigao.

E a sombra do cypreste, impavida entre as lousas, tranquillamente aponta a Chymica das Cousas, que infiltra em cada arbusto a dor de um cora¢ao.

SALVE NATURA!

A Natureza nao attende os queixumes ¢ as sup- plicas do Homem: repelle-o inexorayelmente para o seu proprio Ser,

Lupwie Frueraacn,

Sempre que o pranto corre, humilde, lento, e certo, na estagnacéo da Desesp’ranca indefinida,

e rasga em cada face um sulco a descoberto,

por onde a Dor deslisa, obscura e succumbida,

ninguem repara nesse enorme sulco aberto, ninguem o vé na face esqualida e dorida,

por ser o Egoismo, em tudo, o natural deserto, em que a extranha dér nao pdéde achar guarida.

Odeio-te por isso —injusta Natureza ! — a quem, numa servil hosanna pantheista, é uso lisongear o Poder e a Grandeza.

Infinitos so6mente em tempo e em espaco, tal Grandeza e Poder cegam de todo a vista, emquanto se nao sente o horror do seu abraco.