— Reparem bem no hotel — recomendou Rogério — tomem nota da rua, e do número da casa: é indispensável isto, quando a gente habita provisoriamente uma cidade desconhecida. Apesar da hora adiantada, ainda devo hoje tratar de negócios; mas vamos ao “triângulo”. O “triângulo” é o coração da cidade de São Paulo: uma parte urbana limitada por três ruas, muito animadas, a Direita, a de São Bento, e a Quinze de Novembro.

As ruas, como as do Rio de Janeiro, regurgitavam de povo; as lâmpadas elétricas jorravam luz ofuscante; esplendiam as fachadas dos teatros e dos cinematógrafos, e os mostruários das luxuosas lojas de jóias, de modas, de variados artigos. Dos cafés, das confeitarias, das cervejarias saía o rumor das músicas, das vozes, dos risos. Cruzavam-se os bondes, as carruagens atreladas, os automóveis. Pequenos vendedores apregoavam numa algazarra os jornais.

Entraram em um botequim. Rogério tomou café, e partiu, dizendo aos meninos que o esperassem ali, ou voltassem ao hotel, se não tivessem medo de perder-se...

— Qual! Perder-nos! — tornou Alfredo, muito senhor de si. — Prestei toda a tenção ao caminho!

— Sim! Sim! — disse Carlos, rindo. — Já sei que és um grande andarilho, um herói! — Mas já não te lembras que te perdeste na rua do Ouvidor...

ficaram ali os dois, a princípio muito entretidos, a contemplar o movimento da casa e da rua. Mas fazia frio, o frio penetrante de São Paulo, e