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Quando elle scisma, ondeam-lhe no aspecto
Os echos do profundo pensamento
Desfeito em mil imagens;
E a mente alçando-se ao ceruleo tecto,
Penetra de Adonai o aposento
Lá do espaço nas margens.

Elle passa gemendo entre os humanos
Qual triste mocho, que piando passa
Nas salas do festim;
A elle a noite, e os aquilões vesanos,
Aos outros, de prazer em flórea taça
Embriaguez sem fim.

Oh! deixai que o poeta em paz deplore
Na solidão seu fado, e se lastime
Da poesia nos braços;
Deixai que o proprio coração devore
Onde o fogo do céo caindo, imprime
Incendiados traços.

Nos caminhos da vida elle sentado
Em ferreo marco, vê passar ruïdosa
A caravana dos vivos;
Ao ouvil-o estaca o viajor cançado,
E expande o sonho da feição rugosa
Da lyra aos sons altivos.