E’ que essa lyra canta uma esperança,
Primogenita alegre da desgraça,
Que conduz pela mão;
Que a conduz ao porvir, que sempre avança
Qual fugaz nuvem, té que se desfaça,
Nuvem, e illusão.
De crépe o vate a doce lyra cobre
Se mais um crime a Divindade affronta
Ensanguentando a historia:
Elle abençôa o obolo do pobre,
Mostra a cruz á virtude, e além aponta
Um hemispherio á glória.
Porque ri co’a virtude, e porque chora
Sôbre alheio soffrer, e sôbre sceptros
Que ha pouco eram alfanges.
Sabe que é glória vã a que se escora
Em ossos nús;— são seu cortejo espectros,
Seu pedestal phalanges.
Elle ama o sol— da Providencia imagem,
Ama o oceano—imagem do infinito,
E a noite, irmã da morte;
Ouve um perfume no espirar da aragem,
E dos trovões no rabido conflicto
Ouve a voz de Deus, forte.
Página:Aureliano José Lessa - Poesias posthumas (1873).pdf/23
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