para refrigerar a sede, que me atormentava, e reparando no semblante, que mostrava o líquido cristal, gritei aflita: Ai triste! crendo ser alguém, que se chegava a mim; e voltando logo sem ver pessoa alguma, assentei ser eu a mesma, que me desconhecia, pelo deplorável estado, em que no pálido semblante se copiavam os meus trabalhos. Assim passei cinco meses daquele inexplicável tormento, até que achei a gruta, em que me viste, onde fiz assento, entendendo ser aquela a minha sepultura, pois me faltava o alento para continuar o caminho, e ignorava se ia a encontrar-me com os meus contrários, ou se me retirava deles; e nesta dúvida, sentindo vizinha a morte, me recolhi ao centro daquele rochedo, que se achava então livre das feras; mas quando principiou a ser imenso o calor, me vi em novos sustos porque começavam a entrar os moradores, que eu não esperava.
Não sei dizer-te o medo, que me causavam, quando reparavam em mim; uns raspavam a terra, outros como rosnando se chegavam tanto, que pegando com os dentes no pano, que cobria, me voltavam de uma parte para a outra, e ficava eu imóvel no mesmo lugar, onde havia caído. A este tempo vinham outros, que me passavam por cima,