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AVENTURAS DE HANS STADEN
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Assim o imaginou Hans, e ficou à espera do cacique, certo de que o seu regresso lhe marcaria o fim do martírio.

Ouvindo uma tarde gritos na cabana de Nhae-pepô, Hans estremeceu. Era costume dos indios receberem com tais gritos os companheiros que tornavam das viagens, e aquele barulho queria dizer que Nhae-pepô estava de volta. Resignadamente, pois, ficou á espera do que desse e viesse.

Sem demora veio ter com ele um indio, que lhe disse:

— “Alkindar, o irmão de Nhae-pepô, acaba de chegar e diz que os outros lá ficaram em Mambucaba muito doentes”.

O coração de Hans bateu apressado, com a esperança de novo renascida. Aquela doença de Nhae-pepô viria afastar mais uma vez a época do seu sacrificio.

Não demorou muito e apareceu-lhe Alkindar; sentou-se e principiou com lamurias, dizendo que Nhae-pepô, sua mãe e seus sobrinhos tinham caido doentes em Mambucaba, donde mandavam pedir a Hans que intercedesse perante o seu Deus para que todos sarassem.

— “Meu irmão, concluiu Alkindar, pensa que o teu Deus está zangado com ele”.

Ao ouvir tais palavras o pobre Hans creou alma nova, e sem demora confirmou tal suposição.

— “Está zangado, sim, porque insistis em afirmar que sou português quando não é verdade. Ide ter com Nhae-pepô e dizei-lhe que volte, que eu falarei a meu Deus para que todos sárem”.

Com isto retornou o indio para Mambucaba e Hans pela primeira vez dormiu uma noite sossegada.