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MONTEIRO LOBATO

Alguns dias depois regressaram os doentes. Hans foi chamado á cabana de Nhae-pepô, que lhe disse :

— “Tu sabias de tudo. Tu disseste naquela noite que a lua olhava zangada para a minha cabana”.

Hans lembrou-se do incidente da lua e encheu-se de grande alegria, imaginando que Deus visivelmente o estava protegendo. Aproveitou-se do caso para convencer o índio de que era assim mesmo. A lua estava zangada com todos eles porque queriam comê-lo, como se fosse um pero, o que não era verdade. Vinha daí aquele rosario de desgraças.

Nhae-pepô pediu-lhe que os curasse. Hans, então, deu-se ares misteriosos e girou em torno dos doentes, fazendo passes com as mãos e pronunciando palavras cabalisticas. Terminou assegurando que iriam todos sarar.

Infelizmente aquelas micagens não produziram nenhum efeito; no dia seguinte morreu uma criança; em seguida, a mãe de Nhae-pepô e mais uma velha que andava fabricando os potes para o cauim da festa de Hans.

— Que festa? indagou Narizinho. A festa em que iam comê-lo ?

— Sim, respondeu dona Benta, como nós hoje fazemos uma festa em torno do sacrificio de um perú... Mas não ficou aí o desastre; dias após faleceu outra criança e, por fim, um irmão de Nhae-pepô.

O morubixaba caiu em grande tristeza diante do estrago que a morte estava a fazer em sua familia; e, com medo de ir-se tambem, pediu de novo a Hans a proteção