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O Rio de Janeiro, como Pernambuco, se ufana de ter sido a pátria, ainda nos tempos coloniais, de uma célebre poetisa; — dona Ângela do Amaral Rangel.

Ela nasceu nas primeiras décadas do século XVIII. Descendente de uma família ilustre pelos serviços prestados ao país, teve por berço a risonha cidade, que Estácio de Sá regará com seu sangue e que seus descendentes acabaram de resgatar às armas triunfantes de Duguay-Trouin.1

Sorria-lhe a terra natal com todos os seus encantos; a seus pés espraiava-se-lhe a mais magnífica das baías, com ondas aniladas, com ilhas verdes e floridas, e cingida de montanhas escamadas de verdura ou de serras arrepiadas de penedos; sobre sua cabeça brilhava-lhe o mais esplêndido do céu azul, sem nódoa, cheio de constelações deslumbrantes; cercavam-na os bosques engrinaldados de flores e frutas; afagavam-na as brisas perfumosas da tarde e da manhã, mas o destino enlutara-lhe o berço roubando-lhe as galas e os brincos da infância para velá-la com os horrores das sombras do limbo! Ai, uma noite sem aurora, longa, sem fim, devia ser a sua vida, como si para ela a Terra se escondesse eternamente aos raios vivificadores do astro do universo!

Cega, inteiramente cega, ela não teve para seus pais