com palmeiras agitadas pela viração, como se flutuassem sobre as ondas azuis de dourado mar, e por abóbada de tanta magnificência céu azul, céu sem nódoa, céu brilhante, majestoso. Artista, ela, desenhava para si essas flores, que a enleavam com a sua fragrância; coloria com as tintas do íris esses pássaros que lhe diziam as suas endeixas; esmaltava de esmeraldas, de rubis e diamantes esses insetos que lhe zumbiam em torno, e ornava com as pétalas da passiflora, da clícia, das bromélias, essas borboletas que, à semelhança de flores aéreas, lhe adejavam sobre os olhos {mortos, eclipsados, sem luz! Poetisa, ela misturava suas canções ora alegres, ora maviosas aos cânticos dúlios e melodiosos do coro dos serafins que a circundavam, e no seio de uma noite lutuosa achava luz para seus dias e encanto para sua vida, que convertia numa harmonia contínua.
Era então quando aproveitava-se do arroubo de seu gênio e entregava-se a seus delírios brilhantes, às suas inspirações harmoniosas, e os versos deslizavam-se-lhes dos lábios como as águas de um ribeirinho que serpejam por entre relvas e musgos, fáceis, sonoros, simples e agradáveis. Os pais a escutavam e escondiam no meio de seus aplausos de admiração uma lágrima que lhes descia pelas rugas das faces e lhes traduzia a satisfação da alma contrabalançada pelo pesar de tão grande infelicidade.
Vivia D. Ângela do Amaral nos tempos coloniais, mas