a capital da colônia brasileiras tinha suas aspirações à glória literária; escrava sonhava com o fausto de sultana. As suas ordens religiosas floresciam à sombra dos claustros com seus poetas, cuja fama redundava toda em beneficio de suas religiões, e com suas bibliotecas francas à mocidade ávida de sapiência; assim enorgulhava-se a cidade fluviana, como então se dizia,2de possuir a musa jesuíta, a musa beneditina, a musa seráfica e a musa carmelitana que primavam não só na língua portuguesa, como na língua dos bardos das florestas,3 e ainda nas estranhas como a espanhola, e ainda nas mortas como na latina. Ufana de sua coroa poética, possuía a sua Castália no Carioca e nas suas cascatas espumosas e sonoras, bebia largamente suas inspirações. Os seus magistrados proclamavam-se cultores das letras, e o seu governador, o digno e ilustrado Gomes Freire de Andrada, depois conde de Bobadela, as amparava de alguma sorte com a sua valiosa proteção.
Assim tornava-se D. Ângela do Amaral condigna da admiração de todos os seus ilustres contemporâneos. E quando a Academia dos Seletos4 reuniu-se em palácio sob a presidência do erudito padre-mestre Francisco de Faria, para celebrar as virtudes de Gomes Freire de Andrada, a jovem improvisadora, a musa sem olhos veio também com as produções de seu espírito pagar preito e homenagem ao grande general.5 E, coisa admirável, dentre tantas composições entorpecidas pela calculada afetação de estilo, repletas