Na manhã do dia 10 de fevereiro de 1853 a velha porta da rústica choupana rangeu seus enferrujados gonzos, para deixar passar um féretro, que foi levado por poucas pessoas, todas oficiosas ou domésticas, á antiga capela de um dos fundadores de Vila Rica, o famigerado taubateno Antônio Dias.
A campa dos mortos levava os seus lúgubres e compassados sons aos extremos da cidade, e o modesto cortejo se aproximava; os sacerdotes se adiantam, tomam o féretro, e o colocam sobre a eça; abrem-no, e dentro estava o cadáver de uma mulher, trajando vestes nupciais, e coroada com as flores da virgindade.
Era dona Maria Joaquina Dorotéia de Seixas,1 conhecida por Marília de Dirceu, ou a noiva do poeta.
“A rival da mãe de amor na beleza”, diz uma testemunha ocular, “a deidade mortal, que inspirara ao desditoso Gonzaga tantas liras imortais, a formosura peregrina, que lhe despertara o gênio pelos estímulos do amor, vinha agora povoar a morada dos mortos, habitar no asilo das lágrimas, cair na mudez do sepulcro, sumir-se enfim para sempre, no seio da eternidade.
A mão da morte precipitou-a nesse abismo infinito, indefinido, e toda a ilusão deste mundo se dissipou ao aspecto da realidade do outro mundo; e enquanto seu corpo era tão singelamente conduzido ao jazigo dos mortos, seu espírito angélico voava ligeiro a unir-se, nas regiões celestes, à alma generosa de seu cantor e amante.”