por uma febre intensa, que lhe queimava o cérebro, e caía outra vez num abandono estúpido. Ai, desgraçado, estava louco!...
E assim viveu até o ano de 1809.
Pôde dona Maria Joaquina Dorotéia de Seixas sobreviver-lhe por tanto tempo, esquecida do mundo, e tão-somente alimentada de saudades; mas a vida, que ao cabo tornou-se-lhe octogenária, assaz concorreu para que se visse cercada de admiração; traíram-na a publicação daquelas tão lidas e delicadas liras, de que foi tão condigno assunto. Proclamada bela e formosa, cantado por um poeta, que se tornara eminentemente célebre pelo infortúnio do seu exílio, ela viu todos esses louvores, que quase sempre têm um não-sei-quê de exagerados, derramados às mãos cheias pelo seu tão afamado livro, traduzido nas principais línguas deste século, ganhou assim fama não vulgar pelos dotes, que lhe dera o Céu, e pela paixão, que soube inspirar ao mais terno dos poetas de nossa língua. Tornou-se portanto o alvo da geral curiosidade; nacionais e estrangeiros, que chegavam às montanhas de Ouro Preto, que viam ainda os lugares descritos nas imortais liras do novo Petrarca, ficavam como que possuídos do mesmo desejo, que era ver a mulher, que por sua beleza viera acidentalmente figurar em uma das nossas malogradas revoluções. Mas a modesta filha das montanhas de Ouro Preto se afligia, e corava ainda mesmo nos seus últimos anos,