Nessa época o povo português não se media pelo seu número; pequeno em quantidade, era grande e heróico nas armas, e empreendedor e ousado nas conquistas. Com desmarcada ambição desejava possuir mais do que podia conservar; queria avassalar a Ásia, conquistar a África, apossar-se da América Meridional, devassar todos os mares, revistar todas as ilhas, que lhe apareciam todos os dias, como que surgindo do seio das ondas, quais a ilha dos Amores, e sem gente para conservar-lhe a posse, se contentava com plantar o marco das quinas vencedoras, coroadas com o estandarte do cristianismo, símbolo da fé.
Entretanto as esplêndidas vitórias, obtidas no Oriente, a conquista de tantas cidades asiáticas, importantes pelo seu tráfico, afamadas pelas suas riquezas, e célebres pelos seus nomes, a extensão, que ganhava o comércio naqueles ricos empórios, absorvia-lhe toda a atenção. O Brasil, apenas conhecido por suas vastas florestas e seus povos bárbaros e errantes, não mereceu para logo a atenção desses guerreiros, ávidos de glória, que nenhuma fama viam nessas vitórias, alcançadas na luta com tribos selvagens, que só podiam opor à resistência das armas de fogo e à tática militar as suas setas; que só tinham por trincheiras os troncos de seus bosques, e que por todo o comércio com os naturais só tinham a permuta das insignificantes produções da indústria ligeira pelo pau-brasil e alguns animais; e pois o Brasil