Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Como não consumis aquele infame?
Mais pagar tanto amor com tédio e asco...
Ah! que corisco és tu... raio... penhasco!
Bem puderas, cruel, ter sido esquivo
Quando eu a fé rendia ao teu engano,
Nem me ofenderas a escutar altivo,
Que é favor dado a tempo, um desengano:
Porém, deixando o coração cativo
Com fazer-te a meus rogos sempre humano
Fugiste-me, traidor, e desta sorte
Paga meu filho amor tão crua morte?
Tão dura ingratidão menos sentira,
E esse fado cruel doce me fora,
Se a meu despeito triunfar não vira
Essa indigna, essa infame, essa traidora;
Por serva, por escrava te seguira,
Se não temera de chamar senhora
A vil Paraguaçu, que, sem que o creia
Sobre ser-me inferior, é néscia e feia.
Enfim tens coração de ver-me aflita
Flutuar moribunda entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente com que aos meus respondas;
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita
(Disse vendo-o fugir), ah não te escondas
Dispara contra mim teu cruel raio!...”
E indo a dizer o mais cai num desmaio.
Perde o lume dos olhos, pasma e treme
Pálida a cor, o aspecto moribundo;