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Quantas noites de angustias e delirios
Não velei, entre as sombras espreitando
A passagem veloz do genio horrendo
Que o mundo abate ao galopar infrene
Do selvagem corsel?... E tudo embalde!
A vida parecia ardente e douda
Agarrar-se a meu ser!... E tu tão joven,
Tão puro ainda, — ainda n'alvorada,
Ave banhada em mares de esperança,
Rosa em botão, crysalida entre luzes,
Foste o escolhido na tremenda ceifa!
Ah! quando a vez primeira, em meus cabellos
Senti bater teu halito suave;
Quando em meus braços te cerrei, ouvindo
Pulsar-te o coração divino ainda;
Quando fitei teus olhos socegados,
Abysmos de innocencia e de candura,
E baixo e a medo murmurei: meu filho!
Meu filho! phrase immensa, inexplicável,
Grata como o chorar de Magdalena
Aos pés do Redemptor... ah! pelas fibras
Senti rugir o vento incendiado