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CARTAS DE INGLATERRA

Lord Granville, na camara dos lords, na camara dos communs Gladstone, fizeram, em sessão solemne, o seu panegyrico publico; e durante dias, toda a imprensa ingleza, a imprensa de todo o mundo civilisado (excepto a de Portugal, infelizmente) vieram cheias do seu nome, da commemoração dos seus livros, da sua pittoresca historia.

E assim Lord Beaconsfield desappareceu — como fôra o desejo de toda a sua vida — n’um rumor de apotheose.

 

E todavia nada parece mais injustificado que uma tal apotheose. Lord Beaconsfield, por fim, foi um homem de estado que fez romances. Ora os seus romances, como obras d’arte, já começam a apparecer, a esta geração de sciencia e d’analyse, tão falsos, tão ficticios como as novellas lyrico-religiosas do visconde d’Arlincourt; e como homem d’estado o nome de Lord Beaconsfield não fica decerto ligado a nenhum grande progresso na sociedade ingleza. Crear o titulo de Imperatriz das Indias para a rainha de Inglaterra, roubar Chypre, restaurar certas prerogativas da corôa, tramar o fiasco do Afghanistan, não constituem de certos titulos para a sua glorificação como reformador social: por outro lado, escrever