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CARTAS DE INGLATERRA

fardos; outros empregados agaloados, de chicote na mão, davam ordens por entre o fumo do cigarro...

Saciado ou cançado, o homem do courbach, que era um magrisella, atirou um derradeiro pontapé á anatomia posterior do arabe — como quem, ao fim d’um periodo escripto com verve, assenta vivamente o seu ponto final — e, voltando-se para o meu companheiro e para mim, offereceu-nos, de bonnet na mão, os seus respeitosos serviços. Era um italiano, e encantador. A esse tempo o arabe (como quasi todos os fellahs, um soberbo homem de formas esculpturaes) depois de se ter sacudido como um Terra-Nova ao sahir d’agua, fôra-se agachar a um canto, com os olhos luzentes como braza, mas quieto e fatalista, pensando de certo que Allah é grande nos céos e necessario na terra o courbach do estrangeiro.

Quando, no dia 11 de junho, eu li esses telegrammas, repassados de panico, em que se annunciava á Europa que a população arabe massacrava os europeus nas ruas da Alexandria, — não sei porque revi logo o cáes da alfandega, o italiano serviçal de bonnet agaloado, o courbach estalando nas costas escuras do arabe. Isto não é trazido como allegoria, para dizer que as relações dos europeus e dos egypcios se reduziam a estas duas attitudes — um