Página:Cartas de Inglaterra (Eça de Queirós, 1905).djvu/170

CARTAS DE INGLATERRA
155

honesto e activo, do outro um sacripanta de nacionalidade grega ou malteza. A quem se dava o emprego? Ao sacripanta.

Este systema, fecundo a principio, quando o Egypto era uma barbara provincia turca, e os europeus chamados eram homens de saber especial e de integridade, começou no tempo de Mehemet-Ali, que tentava fazer uma nação sobre as ruinas do velho pachalato, e que convidava para essa obra a sciencia e o capital europeu: continuou depois com Said-Pachá, esse delicioso bon-vivant, tão francez que passava os dias a fazer calembourgs, e que não admittiria em torno de si, e nas repartições do estado, senão cavalheiros capazes de apreciar o Charivari; mas a grande invasão de empregados europeus consumou-se no tempo de Ismail-Pachá, — que acceitava tudo o que vinha da Europa, os especialistas e os vadios, os que traziam uma idéa e os que só traziam dividas...

O Egypto renovou então a velha lenda do El-Dorado. Quem em Pariz, ou em Londres, ou em Roma, se via filado pelos credores, com a derradeira sobrecasaca a coçar-se nos cotovellos, e sem poder voltar ao seu club, por dever dez francos ao porteiro, obtinha de um diplomata ou de um principe uma carta de recommendação para o Khediva e tomava o paquete de Alexandria.