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CARTAS DE INGLATERRA

e superior mesmo ao vapor e á electricidade — é a perfeição moral que me dá a lei de Mahomet.»

De resto, nós o sabemos pelas xacaras da nossa mocidade, sempre o crescente detestou a cruz; e póde-se imaginar quaes são os seus sentimentos, agora que a cruz, em logar de o combater como paladino, o explora como agiota.

Se em cidades como Damasco ou Beyrouth o europeu touriste inoffensivo, que passa com a bolsa aberta, excita olhares e murmurios de odio, sómente porque tudo n’elle é differente, desde os dogmas da sua religião até á fórma do seu chapéo — calcule-se o que se dá em cidades como Alexandria e como Tunis, onde o europeu não é touriste amavel que distribue gorgetas, mas o agenciador soffrego que vem instalar-se alli como em terra que conquistasse para arredondar depressa um peculio, sob a bandeira do seu consul.

Accrescente-se que no Egypto o europeu apparecia aos olhos do arabe com o caracter odioso de um privilegiado.

Uma cousa parecia intoleravel — é que o europeu empolgasse todos os logares, todos, desde as gordas sinecuras até os diminutos empregos de cem francos por mez.

Vagava um obscuro posto de carteiro ou de telegraphista — e concorriam, de um lado um arabe